sexta-feira, 29 de abril de 2011

Medo brasileiro

Medo brasileiro

 

Por Rafael Ligeiro

http://www.twitter/rljornalista

 

 

Entre 1980 e 1993, a França foi uma das potencias da Fórmula-1. Nessa época, o país contou com um batalhão de pilotos na categoria. Gente do quilate de René Arnoux, Didier Pironi, Patrick Tambay, Jacques Laffite e Alain Prost. Mais que isso, bons resultados vieram. Foram 67 vitórias em 220 corridas. Cinco vice-campeonatos e quatro títulos de Pilotos em apenas 14 temporadas.

 

Contudo, a situação mudou drasticamente ao país europeu após a aposentadoria do Professor Prost, ao final de 1993. Vitórias? Somente duas: nos Grandes Prêmios do Canadá de 1995 (Jean Alesi) e de Mônaco de 1996 (Olivier Panis). E a síntese mais fiel à derrocada francesa está no grid. Nenhum francês iniciou a temporada 2011 como titular; algo, aliás, que também não atingiram nas 19 provas do campeonato passado.

 

No entanto, não é bem sobre a França que desejo abordar nesse artigo. Mas sim do nosso Brasilzão. Afinal, sobra ocasiões em que escuto torcedores – e até mesmo colegas jornalistas – questionarem a qualidade da atual jovem safra de pilotos brasileiros no Exterior. Percebo que há um temor de que o País siga o caminho decadente percorrido nos últimos anos pela França na Fórmula-1.

 

Sinceramente, ainda não há um piloto da nova geração verde-amarela que me empolgue. Daquele tipo que você jura que vai chegar à Fórmula-1 e arrebentar. Assim como ocorrera com Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Assim como ocorreu, restrições devidamente respeitadas, com Rubens Barrichello e Felipe Massa.

 

Isso, contudo, de modo algum significa que não tenhamos bons valores. César Ramos, Adriano Buzaid, Felipe Nasr, Yann Cunha e Lucas Foresti são alguns dos nomes que poderão nos representar bem nas pistas durante os próximos anos. Mas ficam naquela popular dependência: fazer muito bonito em certames de base e conquistar patrocinadores poderosos. Gente capaz de bancá-los até a Fórmula-1. E, quando por lá chegarem, esses patrícios precisarão mostrar ainda mais serviço. Pois será necessário deixar claro que possuem muita qualidade para alcançar grandes times. Apenas assim poderão brigar por pódios sucessivos, vitórias e títulos.

 

Sinceramente... É muito bacana ficar de olho na carreira dessa garotada, acompanhar cada teste, treino e corrida deles. Mas é cedo para qualquer tipo de cobrança. Muito cedo. Eles ainda precisam amadurecer profissionalmente em categorias de base. De qualquer modo, compreendo aqueles que cobram essa turma. Afinal, a geração anterior de pilotos do nosso Brasilzão, em que era depositada enorme esperança, infelizmente, ainda não deu certo.

 

E não falo de Massa. Tampouco de Barrichello.

 

Bruno Senna e Lucas di Grassi não tiveram culpa pela infeliz temporada de estreia na Fórmula-1, ano passado. Mas se não decepcionaram, convenhamos, também não empolgaram. Sem tal condição – e sem patrocinadores graúdos, ficava muito difícil almejar uma vaga de titular. Em qualquer time. Bruno, ao menos, saiu no lucro. Virou "primeiro-reserva" na Lotus Renault.

 

Antes dessa dupla, a torcida brasileira viu a carreira do promissor Nelsinho Piquet naufragar.

 

Nelson Jr., como os colegas da imprensa europeia gostam de chamá-lo, reunia muitos dos ingredientes para se dar bem na Fórmula-1. Talentoso, tinha à disposição o know-how do pai, Nelson Piquet, que lhe ajudou a construir uma carreira longa antes de chegar à categoria da FIA, em 2008. Com apenas 22 anos, Nelsinho já acumulava 15 temporadas no esporte a motor: oito no kart, seis em certames de base e uma como piloto de testes da Renault. Foi campeão por onde passou, exceto na GP2. Por lá perdeu a disputa pelo título de 2006 para Lewis Hamilton. Algo que, dado o talento do atual piloto da McLaren, não é demérito algum para o brasileiro.

 

Na Fórmula-1, Piquetzinho teve até alguns bons momentos. Dificultou a vida do companheiro de Renault, Fernando Alonso, em algumas ocasiões. Quase beliscou uma vitória em Höckenheim, logo no ano de estreia. Mas o que aconteceu? Subitamente acabou envolvido naquele terrível bafafá do GP de Cingapura de 2008. Sem clima na Fórmula-1, busca reerguer a carreira na Nascar.

 

Além de Bruno, Lucas e Nelsinho, outros brazucas chamaram a atenção nos últimos anos. Mas, sem verba seguir carreira rumo à Fórmula-1, ficaram pelo caminho. Nesse cenário perdemos talentos do porte de Danilo Dirani e Sérgio Jimenez. Dupla que brilha atualmente no automobilismo nacional. Sem esquecer ainda de Augusto Farfus Jr. e João Paulo de Oliveira, que brilham no Exterior.

 

Ficar à espera do surgimento de um novo fenômeno das pistas no Brasil capaz de chegar à Fórmula-1 – e fazer bonito – beira a mediocridade. É pensamento pequeno. Uma grande alternativa ao nosso automobilismo seria a valorização das categorias de Fórmula no país. Esforço que deveria partir da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), lógico. Mas também das esferas legislativa e executiva do Brasil.

 

Claro. Pode parecer estranho envolver política com automobilismo. Mas explico. Será que o Governo não poderia criar um fundo de apoio a jovens valores de nosso esporte a motor?

 

A proposta é simples: escolher uns quatro ou cinco pilotos bons de braço. Com forte suporte financeiro, mandá-los à Europa, para correr nas melhores equipes dos certames de acesso à Fórmula-1. E nem é necessário envolver dinheiro público nessa jogada. Bastaria aumentar os benefícios presentes na Lei de Incentivo ao Esporte – como redução no recolhimento anual de impostos – para empresas interessadas em bancar esses rapazes. Política que também se estenderia a companhias que apoiassem o kart e às montadoras que criassem categorias de fórmula no País. E, até mesmo, às emissoras de televisão que transmitissem o evento.

 

Confesso que sinto falta do envolvimento que montadoras como Ford e Chevrolet tiveram com os certames de Fórmula no Brasil durante os anos 80 e 90. Desde que deixaram nosso automobilismo, surgiu uma lacuna: a do primeiro passo aos pilotos saídos do kart. Nesse sentido, um nacional aos moldes da Fórmula Ford seria muito bem-vindo. Carros sem aerofólios, nem tanta potência quantos os 255 cavalos do motor de um carro da Fórmula-3 Sudam e muitas opções de regulagem.

 

Alguns podem questionar: E a Fórmula Future? Sem problemas... Que fique aí. Mas que receba uma concorrente. Afinal, desse modo surgiria uma disputa para ver qual seria a mais barata. Coloco-me à disposição dos envolvidos na categoria para corrigir qualquer dado, mas, segundo informações que tive, uma temporada na Future sai por 350 mil Reais. Creio que esse valor pode até parecer pouco em um universo como o do esporte a motor – assim como compreendo e aprecio os esforços da Fiat e de Felipe Massa. Mas, cá entre nós, não sei se temos atualmente 30 automobilistas recém-saídos do kart que possam bancar tal quantia. Não se acha 350 mil numa esquina qualquer, dentro de um envelope perdido por um office-boy.

 

Há luz, turma. Ainda há luz. Só não espero que o automobilismo, uma das atividades que melhores representam nosso Brasil no Exterior, tenha de buscá-la no famigerado fim do túnel.

 

 

*****

 

Dobradinha na Fórmula-3 – Quatro vitórias em seis corridas. Esse é o excelente retrospecto do Brasil na atual temporada de Fórmula-3 inglesa. São três primeiros lugares de Felipe Nasr, da Carlin, e um de Lucas Foresti, Fortec.  Não à toa, a dupla ocupa as duas primeiras colocações do certame. Nasr é líder, com 92 pontos. Já Foresti é vice-líder, ao lado do malaio Jazeman Jaafar, com 58.

 

Sétimo colocado, com 31, Pietro Fantin, já faturou um segundo lugar e uma volta mais rápida de corrida.

 

 

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Marque presença. Afinal, é hora de invadir a praia deles.

 


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